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UMA REFLEXÃO SOBRE OS PERIGOS QUE CERCAM A VIDA DE UM PASTOR. |
A morte por suicídio de um pastor assembleiano no último dia 12 do mês em decurso me leva a algumas considerações. A primeira delas é que em razão do ofício somos tentados a mostrar uma face que nem sempre reflete o que vai no coração. É que as pessoas de perto ou de longe precisam pensar que estamos bem. Somos guias do rebanho e estamos proibidos de qualquer tropeço sob pena de a casa vir abaixo.
Outro ponto é o nosso próprio encastelamento, que nos distancia pouco a pouco do povo a quem servimos. Este, por sua vez, também se afasta por achar que como pastores temos uma aura de santidade que nos difere e nos põe num patamar privilegiado de modo que ele - o povo - precisa manter certa distância reverencial. Com isso, ficamos isolados e perdemos o senso de pertencimento. Logo somos presa da prepotência.
Como um abismo chama outro abismo, tal distanciamento contribui para se criar a ideia de que somos infalíveis e não mais precisamos ser pastoreados, mentoreados ou supervisionados. Não temos a quem prestar contas até por falta de confiança nos colegas. Somos perfeitos. Ponto. Pode acontecer em momentos assim que o pecado transpareça em cores vívidas, retirando a nossa sensibilidade espiritual. Passamos a achá-lo algo comum, praticável, que não interferirá em nossa comunhão com Deus.
Junte-se a isso o chamado ativismo de resultados. Ocupamo-nos com tudo, queremos abraçar o mundo num frenesi tão intenso que logo estamos esgotados em todas as áreas de nossa humanidade: espiritual, emocional e física. Não temos tempo para administrar os nossos conflitos, ambiguidades, dores, sofrimento, porque isso é coisa de "crente fraco". Como forma de escape, envolvemo-nos em mais ativismo só para estarmos ocupados.
Precisamos rever a nossa caminhada. Não somos infalíveis. Somos pecadores como qualquer outro. Necessitamos de ajuda mútua. O companheirismo saudável é uma ferramenta necessária para que as nossas cargas sejam compartilhadas. Temos de aprender a abrir o coração diante de mentores comprometidos com Deus, que tenham disposição para nos ouvir, orar e ler a Bíblia conosco, os quais também necessitam de mentoria tanto quanto nós. E que a igreja nos veja como pastores humanos, falíveis, sujeitos às mesmas paixões como era sujeito o profeta Elias, ajudando-nos a manter erguidos os nossos braços cansados. Por fim, todos nós indistintamente dependemos sempre da graça sustentadora de Deus.
Obs. Texto publicado na íntegra com a devida autorização do autor.
Geremias Couto é: Ministro do Evangelho, Conferencista, Jornalista, Escritor, Teólogo e Pastor da Assembleia de Deus.
Pr. Arnaldo Gomes.